Mitos da energia solar fotovoltaica
- Hugo Amaral
- 10 de abr. de 2019
- 4 min de leitura

#1 - Quando "faltar luz", minha residência vai continuar sendo abastecida pelo sistema fotovoltaico?
Nos sistemas on-grid ou conectados a rede isso não é possível, pois eles não possuem bateria e são conectados à rede da distribuidora de energia elétrica. A corrente elétrica produzida pelos painéis solares não é compatível com a energia da rede da concessionária. Devido ao processo físico-químico que ocorre nos painéis solares, a corrente elétrica gerada é do tipo contínua, ou seja, não há alternância na polaridade (sentido) - positivo é sempre positivo e negativo é sempre negativo. Para que essa corrente possa ser "injetada" na rede da distribuidora local, ela deve ser transformada. A corrente elétrica da distribuidora é alternada, significando que ela alterna sentido (polaridade) e intensidade um determinado número de vezes em determinado intervalo de tempo. Essa alternância é chamada de ciclo, que no caso das redes das distribuidoras de energia elétrica é de 50 a 60 ciclos por segundo, ou seja a frequência é de 50-60 ciclos por segundo ou 50-60 Hz (Hertz). Essa corrente contínua dos painéis solares deve ser convertida para corrente alternada na mesma tensão (voltagem) e frequência da rede da distribuidora. O equipamento responsável por essa transformação é o inversor (os inversores, como o nome diz, invertem o sentido da corrente elétrica na mesma frequência da corrente elétrica da distribuidora). Os inversores utilizam os parâmetros da rede da distribuidora para ajustar a corrente elétrica produzida pelos painéis solares, "imitando" assim a corrente fornecida pela distribuidora. No evento de uma interrupção desse fornecimento feito pela distribuidora, o inversor ficará sem uma referência e desligará o sistema. É por esse motivo que mesmo com um sistema fotovoltaico instalado, se houver interrupção do fornecimento da distribuidora, também haverá interrupção da geração de energia fotovoltaica.
#2 - A energia "a mais" que é gerada durante o dia será consumida a noite?
Nos sistemas on-grid não há armazenamento de energia, uma vez que não há acumuladores (baterias) instalados no sistema. Os sistemas conectados à rede da distribuidora são equipados com medidores bi-direcionais, ou seja, a energia excedente é contabilizada como crédito (energético), pois esse medidor é capaz de medir tanto a energia que entra na unidade consumidora e quanto a energia (gerada pelos painéis solares) que sai da unidade consumidora.
#3 - Toda energia elétrica produzida pelos painéis solares é aproveitada?
Os painéis solares são testados em fábrica em condições ideais de irradiância e temperatura (25°C). O cálculo de um sistema solar é baseado em um ciclo completo de faturamento (12 meses), a energia total gerada pelo sistema em um ano deve ser igual a consumida pelas cargas da residência em um ano (deve ser subtraído desse total a energia que obrigatoriamente tem que ser comprada da distribuidora: medidor monofásico: 30 Kwh/mês, bifásico: 50 e trifásico: 100. Esses valores são o custo da disponibilidade do serviço) . O que isso quer dizer? Ora, a quantidade de horas de sol não são iguais em todos os meses do ano e por essa razão, em alguns meses serão gerados créditos e em outros esses créditos serão consumidos. O importante é o saldo ser zero ou próximo de zero no final de um ano. Grande parte do cálculo de um sistema fotovoltaico é composto pelas correções de rendimento. São vários os fatores que fazem com que os painéis percam rendimento em relação à potência nominal aferida em condições ideais. A saber: coordenadas geográficas, azimute (orientação) dos painéis, inclinação dos painéis que normalmente são instalados em telhados, temperatura da região e os demais componentes do sistema que apresentam rendimento inferior a 100%. O somatório de todas essas perdas fazem com que a potência real do arranjo solar instalado seja bem diferente da potência nominal.
#4 - Vou instalar "um kit" igual ao do meu vizinho. Consigo me livrar da conta de energia elétrica?
Não, por duas razões: em primeiro lugar, há que se pagar à distribuidora de energia elétrica o custo da disponibilidade - consumindo ou não energia, ela está ali disponível. Em segundo lugar, conforme explicado no item #3 acima, existe pouca possibilidade que o sistema instalado para seu vizinho sirva para o seu propósito. Cada projeto é único e deve ser calculado individualmente. Não há padronização (pelo menos aos custos atuais) para sistemas fotovoltaicos.
#5 - Depois de instalar o arranjo fotovoltaico, minha fatura de energia elétrica ficará "zerada"?
Novamente, não. Na verdade a fatura de energia nunca será zero. Mesmo que a unidade consumidora permaneça fechada e que não haja consumo, a distribuidora sempre cobrará a taxa de disponibilidade que, em baixa tensão, é equivalente ao custo de 30 KWh/mês para medidor monofásico, 50 KWh/mês para bifásico e 100 KWh/mês para trifásico.
#6 - Regiões mais quentes geram mais energia?
Se por um lado regiões mais quentes tendem a ter uma irradiância maior, mais horas de sol-pico, por outro lado os painéis solares perdem eficiência em temperaturas mais altas, em torno de 0,4 a 0,5% por grau. Em um região com temperaturas médias de 30º C, haverá uma perda de rendimento da ordem de 12 a 15%!
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